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A primeira parte desse texto começou apresentando alguns filmes de ficção científica cujo tema é o sequestro da subjetividade humana, ou a intromissão do sistema de controle nos sonhos humanos. Logo em seguida apresenta nossa sociedade mediada pelo Tecnoceno, que é um dos braços fortes do Antropoceno, e como este promove o sequestro do futuro. Evidencia a ideia de que o excesso de extração dos recursos naturais de dentro da Terra é concomitante à extração do “espírito” de dentro dos corpos, e isso está nos levando aos desastres climáticos, assim como à miséria ontológica.
Depois disso, esse texto apresenta uma equação pedagógica, onde define as bases ontopolíticas que sustentam suas proposições, afirmando que elas fazem parte da gramática de liberação do futuro e sonhos. São elas: tecnoxamanismo + ancestrofuturismo + redes de inconscientes. Antepõe isso às bases tecno-ideológicas da sociedade de controle, responsáveis pelo sequestro do futuro e dos sonhos, que são: tecnociência + capitalismo corporativo + inteligência artificial de Deus. Deixa claro que essas equações estão em conflito e disputam a rede de inconscientes e o futuro da Terra. Sugere que a grande ideologia de liberdade e individualidade prometida no pós - II Guerra Mundial pelas corporações industriais dos países aliados, foi uma grande armadilha, que culminou na criação de um terrível sistema de controle.
Depois disso salienta a importância da ficção e sua capacidade de criar mundo, tirando-a do aprisionamento do universo simbólico e imaginário, trazendo-a para a concretização de fato. A ficção então é apresentada como um dos instrumentos mais poderosos de produção de realidade, assim como a hiperstição, que é a capacidade de criar ficções em bandos, e materializá-las na realidade. Aqui o texto retorna aos filmes, dizendo que essas ficções apresentam o terrorismo da máquina, o encurralamento que a sociedade de controle está impondo a todo o mundo, ao mesmo tempo em que apresentam inúmeras formas de resistência ou de fuga. Com base nessa ideia de ficção como algo determinante, o texto traz o ancestrofuturismo e redes de inconsciente, apresentando-os como projetos metafísicos de ampliamento forçado das nossas bases ontológicas e reestruturando a ideia de comunicabilidade entre inconscientes, apresentando-a como um operador radical de ancestralidades e futuros entre humanos e os outros (que não são humanos, mas são outros entes). Aqui entram questões relacionadas à espectrologia, aos universos paralelos de signos que atravessam a linguagem e os campos invisíveis não acessáveis com esse nível de consciência mesquinha, como mostra Davi Kopenawa, que diz que os brancos só sonham consigo mesmo e suas mercadorias e por isso não veem nada, e pensam que tudo o que não veem é mentira.
A última parte do texto mostra os sonhos como um dos portais mais poderosos de resgate das ontologias perdidas no passado, assim como de produção de futuros mais livres. A partir de várias referências, sugere uma metodologia de tratamento/treinamento dos sonhos, partindo da relação entre arte e clínica. Nesse momento aparecem algumas metodologias de trabalho, oriundos de práticas tais como programa ruidocrático, sonhos derivados, comunidades oníricas, etc. Cada um deles nos levando para um grau mais elevado de entendimento sobre sonhos como espaço público ontopolítico, algo que deve ser urgentemente resgatado para que haja possibilidade de resistência subjetiva ao terrorismo da máquina, e para que se fortaleça a liberação do futuro através do esquema anti-sequestro dos sonhos, pois quanto mais livres são os sonhos, mais capazes são de gerar mundos.
Fabiane M. Borges